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Fatos sobre a Apple no Brasil

Existem boatos que demoram a morrer ou a tornar-se realidade. O iPhone levou cerca de seis anos antes de virar o sucesso que hoje conhecemos. O mesmo se pode dizer sobre “a tablet da Apple”, que acabou se transformando no iPad, um boato ouvido e recontado por muito tempo.

Mas existe um rumor que continua a assombrar os fãs brasileiros da marca: uma fábrica (montadora) de produtos Apple no Brasil. Durante muitos anos, o sonho de fabricar Macs, iPods, iPhones e agora iPads dominou o imaginário do usuário brasileiro. E voltou a ser notícia depois que o empresário Eike Batista começou a escrever em sua conta no Twitter que iria montar uma “fábrica da Apple” (sic) no Brasil.

Mas tudo desandou de vez depois da visita da presidenta Dilma Rousseff à China, quando conversou com o presidente da Foxconn (uma das principais parceiras da Apple na China e que faz a montagem de diversos produtos da Apple). Todos se animaram com a possibilidade de termos produtos Apple produzidos aqui – e possivelmente vendidos a preços mais baixos – e diversas especulações apareceram na mídia, como explicamos em nossa carta aberta aos applemaníacos.

Não temos qualquer informação oficial de que o iPad pode ser nacionalizado. Tanto a Foxconn como a Apple não comentam o assunto, mas também não negam nada. Por isso, vamos remontar o caminho do relacionamento da Apple com o Brasil, para podermos ver no que isso pode dar.

Fato – Made in Brasil em 1997

Desde 1995, a Apple está presente oficialmente em nosso território. Antes disso, os Macs chegavam por contrabando (até 1992) e depois pela Compusource, que foi indicada pela Apple nos EUA para ser a representante oficial da marca no Brasil. Nos primeiros anos, os investimentos foram altos para conseguir conquistar o usuário, que era obrigado a comprar Macs apenas de contrabandistas, culpa da Política Nacional de Informática, que reinou soberana durante oito anos (1984 até 1992) e proibia a importação de computadores.

No segundo ano do escritório da Apple por aqui, a empresa conseguiu criar uma linha de montagem de Macs na cidade de Sumaré, que fica a 115 km da cidade de São Paulo. A montadora era uma parceria com uma empresa nacional, a The Group Technology. O preço das máquinas ficou abaixo dos R$ 1 mil na época, e elas eram comercializadas principalmente na rede de hipermercados Extra.

A fabricação dos Macs durou muito pouco. No final de 1997, a Apple Brasil passou por uma grande reestruturação por conta da quase falência da matriz. Metade da diretoria foi demitida e o projeto de montagem acabou sendo descontinuado no começo do ano seguinte. Depois disso, várias vezes se ouviu dizer que a “Apple iria abrir uma fábrica no Brasil”. A primeira década do século XXI foi recheada de boatos e lendas sobre a tal montadora.

Boato – “Faço e desfaço”

O ano de 2010 ia acabando quando a “lenda da fábrica da Apple” voltou. O culpado foi o empresário Eike Batista, que revelou em seu Twitter o desejo de montar iPads aqui no Brasil. Para ele, não fazia sentido o brasileiro ter que pagar “duas vezes e meia” por um tablet da Apple.

Eike afirmou na época que já entrara em contato com dois grupos industriais asiáticos parceiras da Apple na fabricação e montagem de produtos. Certas informações importantes, porém, não foram divulgadas: os nomes das montadoras ou estimativa de investimento para implantar o projeto.

Apesar de toda a comoção que isso gerou na comunidade macmaníaca, um fato passava desapercebido: a Foxconn já estava no Brasil e nunca anunciou nenhum plano de expansão da sua operação por aqui.

Fato – China no Brasil

Fundada em 1974, a Foxconn é hoje uma das maiores fabricantes de computadores e componentes eletrônicos do mundo. De origem taiwanesa, tem presença em 14 países, entre eles Brasil, Estados Unidos e República Tcheca.

No Brasil, a Foxconn iniciou suas atividades em 2005, em Manaus (AM), com uma fábrica de celulares e, em 2007, começou a fabricar máquinas fotográficas. Em 2006, ela abriu outra unidade na cidade de Indaiatuba (SP), também voltada para a fabricação de aparelhos celulares da Sony Ericsson. A fábrica em Jundiaí foi inaugurada em 2007 e é a maior da empresa em solo brasileiro. O local foi desenvolvido especialmente para a fabricação e montagem de computadores, notebooks e netbooks, além das placas-mãe para esses equipamentos. Em Jundiaí trabalham cerca de 3.300 funcionários, segundo a Foxconn.

Além dessas três plantas, a empresa ainda possui atividades em Sorocaba (SP), e Santa Rita do Sapucaí (MG), esta última inaugurada em outubro de 2010. Entre os principais clientes da Foxconn no Brasil estão Dell, HP e Sony. Então, por que Eike Batista afirmava que iria trazer uma montadora de produtos da empresa comandada por Steve Jobs para cá se já existia uma fábrica que poderia fazer isso? Pergunta, até o momento, sem resposta.

Fato – Brasil na China

Em abril de 2011, a presidente Dilma Rousseff foi à China para fechar acordos comerciais com o governo e algumas empresas chinesas. Ela se encontrou com Terry Gou, presidente e fundador da Foxconn e, durante a reunião, foi apresentado um plano de investimentos em nosso país, com cifras que poderiam chegar a inusitados US$ 12 bilhões (algo em torno de R$ 19 bilhões). Esse investimento seria para uma fábrica de telas (displays) para diversos produtos eletrônicos, incluindo computadores, televisores e tablets. Terry Gou afirmou que a empresa está tentando melhorar sua capacidade de produção de telas e já tem uma fábrica especializada dedicada às televisões da Sony na Eslováquia. Durante a visita de Dilma, os diretores da Foxconn brasileira estiveram na China e Estados Unidos para tratar de negócios.

Boato – “Agora, vai!”

No começo de abril, o jornal Bom Dia, de Jundiaí, publicou que a Foxconn teria encomendado um estudo para a implantação de uma terceira linha de montagem em sua fábrica na cidade. O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Jundiaí, Ari Castro Nunes Filho, em entrevista ao jornal, teria confirmado que a “Apple teria uma fábrica” na região.

Poucos dias depois, a prefeita de Lençóis Paulista (que fica a 285 km da capital São Paulo), Izabel Lorenzetti, afirmou que a cidade estava também concorrendo para abrigar a “fábrica da Apple” (sic). A prefeita disse que não havia conversado oficialmente com qualquer representante da Apple e que “qualquer vazamento pode estragar o negócio”. Esta informação também foi “confirmada” pelo empresário João Dória Jr., em sua coluna na revista Isto É Dinheiro. A fábrica de iPads seria anunciada em abril pelo governador Geraldo Alckmin. Abril passou e nenhum anúncio foi feito.

No mesmo dia em que a presidente Dilma anunciou as propostas da Foxconn, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou com todas as letras que a Foxconn pretende iniciar a produção do iPad em suas fábricas brasileiras até o final de novembro. “As negociações estão longe de terminar, mas estou confiante”, disse o ministro em entrevista coletiva publicada pelo portal G1.

No dia seguinte, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, continuou divulgando notícias sobre a suposta fábrica, dizendo que ela seria em São Paulo e estabeleceu especificações exigidas pelo governo brasileiro para a fabricação do iPad, como metas de produção anual e a porcentagem de equipamentos nacionais que seriam utilizados na produção da tablet.

Luciano de Almeida, presidente da Investe São Paulo, agência estadual de promoção de investimentos, disse ainda que não só o iPad, mas o iPhone também seria produzido aqui a partir de novembro de 2011. A Foxconn da China emitiu um comunicado em que afirmava ter interesse em aumentar seus negócios no Brasil, mas em nenhum momento dizia que iria montar iPads ou qualquer outro produto da Apple em território brasileiro.

Fato – Quer pagar quanto?

Fabricar iPad no Brasil vai deixar ele mais barato? Em termos. O primeiro entrave é a legislação brasileira, que precisa ser mudada. O iPad é considerado “dispositivo móvel, celular”, por isso, sofre tributação diferente de computadores, que possuem maior isenção fiscal. Há um projeto de alterar essa categoria, o que baratearia os impostos que incidem sobre esse tipo de dispositivo, mas ainda não há um prazo para que isso aconteça.

Especialistas ouvidos pelo portal G1 mostraram certo otimismo. “Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), se o Congresso Nacional aprovar a inclusão dos tablets na Lei da Informática e na MP do Bem, o iPad pode ficar cerca de 30% mais barato no Brasil”, afirmam. O iPad mais simples, de 16 GB e conexão Wi-Fi é vendido hoje por R$ 1.700.

Apesar disso, não dá para esperar um preço muito mais baixo que esse, já que o Brasil ainda terá de importar uma grande parte dos componentes necessários para a fabricação dos produtos (não temos a produção nacional da maioria das peças centrais), o que também significa que o iPad continuará a ser lançado com algum atraso por aqui.

Fato – De mudança

Depois da grande “barriga” do portal UOL, que tinha confirmado e oficializado uma fábrica da Apple (sic) por conta de uma possível mudança na razão social na Junta Comercial de São Paulo (que se provou falsa) vários veículos começaram a analisar as várias páginas do contrato da Apple Brasil e o site da revista Info acabou descobrindo uma informação importante: a empresa mantinha um segundo endereço (filial) em Santo André (provavelmente o armazém da loja online), que em março deste ano foi alterado para Jundiaí, muito perto das fábricas da Foxconn na região.

No novo endereço está localizado um condomínio fabril da empresa GR Jundiaí, ocupado por galpões modulares. A Apple teria alugado os galpões 16 e 1, mas eles serão ocupados por duas empresas terceirizadas de logística, a Syncreon e a Hesserbeck. A Syncreon confirmou a transferência para Jundiaí, porém não revelou o nome ou o segmento de atuação da empresa para a qual ela prestará serviços devido a uma cláusula de sigilo no contrato. Já no caso da Hesserbeck, nenhum responsável apareceu para comentar o assunto.

Conclusão

Teremos uma fábrica de produtos Apple no Brasil? Depois de tudo que aconteceu nos últimos dias, não podemos afirmar isso com certeza, mas existem boas chances de acontecer. Mas enquanto Foxconn e Apple não disserem nada, ainda não podemos gritar “é oficial”.
E o preço? No melhor dos cenários, poderíamos adquirir um modelo brasileiro por cerca de R$ 1.100. Não chega aos US$ 500 do tablet nos Estados Unidos, mas estaríamos chegando perto.

É importante considerar também a quem essa fábrica atenderia. Se pensarmos apenas no mercado brasileiro, seria muita arrogância de nossa parte achar que a Apple iria tirar parte da sua produção da China apenas para satisfazer a um país. Mas ao analisarmos a questão por outro ângulo, a montagem em um país filiado ao Mercosul poderia baratear o iPad em uma grande região, já que há isenção de impostos entre os países que fazem parte desse bloco econômico (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo que Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru são associados, e a Venezuela será um membro quando entrar em vigor um protocolo de adesão para o país). Com esse alcance maior, pode fazer sentido ter uma montadora por aqui, mas é difícil saber se o tamanho dessa demanda seria suficiente para que a Apple apostasse suas fichas em uma produção brasileira.

O fato é que estamos todos na torcida para que os boatos até agora divulgados se tornem realidade. E que tenhamos Macs, iPhones, iPads e iPods mais acessíveis para os macmaníacos brasileiros, tão desiludidos durante anos, pagando um alto preço para poderem demonstrar seu amor à plataforma.

Fonte: Geek



Publicado por Pastor Claybom, pai apaixonado, nerd como marca de nascimento, geek por paixão, adorador por excelência. Enfim, um servo de Deus que tenta entender tudo o que Ele nos oferece no dia a dia.



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